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Quem já fez uma cesariana não pode ter um parto vaginal?

29 Jun 2023 - 11:11
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Quem já fez uma cesariana não pode ter um parto vaginal?

Quando o assunto é gravidez, a internet é um universo de partilha de experiências e de dicas úteis, mas também de mitos. É provável, por exemplo, que já tenha lido ou ouvido algures que depois de uma cesariana não se pode ter um bebé através de um parto vaginal.

Mas será esta ideia fundamentada? Qual é o tipo de parto com menos risco para a mãe e o bebé? Faz sentido dizer que “cesariana uma vez, cesariana para sempre”? As respostas moram neste artigo.

Existe evidência científica de que mulheres que já fizeram cesariana não podem ter um parto vaginal?

Uma mulher que já tenha tido um bebé por cesariana pode ter, no futuro, um filho por parto vaginal. Quem o adianta, em declarações ao Viral, é Patrícia Isidro Amaral, assistente hospitalar de Ginecologia-Obstetrícia.

No mesmo sentido, de acordo com a orientação nº 003/2015 de 19/01/2015 da Comissão Nacional para a Redução da Taxa de Cesarianas (CNRTC) da Direção-Geral de Saúde, uma cesariana prévia “não constitui, por si só, uma indicação” para uma nova cesariana em gestações seguintes.

Ainda assim, refere-se na mesma orientação, as “vantagens e riscos” de um parto vaginal após uma cesariana devem ser transmitidos na durante a “vigilância da gravidez”.

No estudo português “Tentativa de trabalho de parto após cesariana. Dois anos de experiência” verificou-se que mais de 64% das grávidas com cesariana prévia conseguiram ter um filho por parto vaginal na gravidez seguinte sem aumento significativo da mortalidade materna ou neonatal.

A investigação concluiu que um parto vaginal após uma cesariana é uma “opção segura”.

O risco de rotura uterina no parto vaginal é “muito baixo” (0,7%), sobretudo quando a grávida entra “espontaneamente em trabalho de parto”, aponta Patrícia Isidro Amaral. Esse risco é “um pouco maior” em caso de indução de trabalho de parto. 

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“No caso de necessidade de indução de trabalho de parto, alguns fármacos são contra-indicados”, se a mulher já tiver feito uma cesariana anteriormente, acrescenta.

No entanto, explica, se já tiver “duas ou mais cesarianas anteriores” ou se teve uma “cesariana anterior com incisões não segmentares transversais”, a mulher não deve ter um parto vaginal.

Mas, após ter um bebé por cesariana, a mulher tem de esperar muito tempo até poder voltar a engravidar? Apesar de “não ser consensual” entre a comunidade médica, recomenda-se que se espere, pelo menos, um ano e meio, refere a mesma especialista.

“Um intervalo entre partos inferior a 18 meses parece aumentar o risco de rotura uterina”, sugere.

Quando é que uma grávida tem de fazer cesariana? Há “diversas indicações por motivos maternos”, como “infeção de herpes genital ativa” ou “placenta prévia total”. Há também motivos relacionados com o bebé: malformações ou “hidrocefalia com macrocefalia (cabeça do bebé de dimensões aumentadas”, quando o bebé está atravessado ou quando a “frequência cardíaca não é tranquilizadora”, exemplifica Patrícia Isidro Amaral.

Vantagens e desvantagens de uma cesariana e de um parto vaginal

Uma cesariana, que é um parto cirúrgico, está associada a “maior morbilidade materna” e a um “maior risco de infeção do útero, de coágulos (risco tromboembólico) e de infeção da cicatriz da cesariana”, aponta a obstetra. Para o recém-nascido, há um “maior risco de dificuldade respiratória”.

Em comparação com o parto vaginal, a cesariana acarreta também um “risco superior” de alterações da placenta, como a placenta prévia ou acretismo, em gravidezes futuras.

“Após uma cesariana, apesar de baixo, existe o risco de rotura do útero e de deiscência, ou seja, abertura parcial com fraqueza da cicatriz uterina”, explica Patrícia Isidro Amaral, em declarações ao Viral.

No entanto, “não nos podemos esquecer” que a cesariana “salva vidas de mães e bebés”, defende. 

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O parto vaginal é um “processo fisiológico” e, consequentemente, “menos interventivo” do que a cesariana. Contudo, destaca a mesma médica, não está “isento de riscos”.

Por norma, a cesariana associa-se a “maior dor” e recuperação mais lenta do que um parto vaginal. Mas, ao contrário, também pode acontecer. Mas a recuperação é “muito variável de mulher para mulher”, refere a assistente hospitalar ouvida pelo Viral.

Segundo normas de orientação clínica da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, de 2018, é “imperativa a implementação da tentativa de parto vaginal em situação de cesariana anterior” de forma a “reduzir o número de partos cirúrgicos” e, consequentemente, “diminuir a morbilidade materna” e “complicações em futuras gravidezes”.

Nesse sentido, a assistente hospitalar de ginecologia e obstetrícia considera que os riscos e benefícios de cada “via de parto” devem ser esclarecidos.

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“A grávida deve estar a par dos riscos, dos benefícios de cada tipo de parto. Deve falar-se de forma esclarecedora, tirando todas as dúvidas e medos que possam estar inerentes a esse momento”, afirma Patrícia Isidro Amaral.

Em 2021, 65,9% dos partos em hospitais privados foram cesarianas. Já nos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde a percentagem de cesarianas foi de 30,7%. Os dados são de um relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).

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29 Jun 2023 - 11:11

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